A Nintendo, famosa por sua postura implacável em processos judiciais, surpreendeu ao adotar uma atitude atípica no litígio contra Palworld, da Pocketpair. Em vez de simplesmente aguardar a decisão da justiça japonesa, a empresa optou por modificar o texto de uma de suas patentes — uma jogada incomum que chamou a atenção de especialistas.
O processo, que tramita no Japão, envolve possíveis infrações de propriedade intelectual relacionadas a mecânicas presentes em Palworld, especialmente a função de usar criaturas como montaria ou transporte, algo que guarda semelhanças com os Pokémon montáveis de jogos recentes como Pokémon Legends: Arceus.
A alteração feita pela Nintendo adiciona expressões mais incisivas ao texto da patente, incluindo termos como “até quando” e “até se”, numa tentativa clara de tornar a redação mais abrangente. O movimento foi analisado por Florian Mueller, especialista em propriedade intelectual e fundador do site Games Fray, que classificou a decisão como “bizarra” e sem precedentes em suas quase duas décadas de acompanhamento de litígios desse tipo.
Segundo Mueller, essa mudança pode indicar insegurança da Nintendo sobre a força de sua argumentação original. Em suas palavras, “é quase um ‘vai ou racha’, uma tentativa desesperada de vencer ao fazer algo estranho”. Ele ainda destacou que o juiz responsável pelo caso, Motoyuki Nakashima, tem vasta experiência com disputas envolvendo patentes, e dificilmente se deixará influenciar por alterações sem base legal sólida.
A Nintendo, por sua vez, não se pronunciou publicamente sobre as modificações, mas fontes próximas indicam que a empresa também está preparando uma ação judicial contra a Pocketpair nos Estados Unidos. No entanto, o resultado no Japão pode influenciar diretamente a disposição da gigante japonesa em continuar ou não com um novo processo em solo americano.
A batalha jurídica entre Nintendo e Pocketpair ganhou os holofotes da indústria justamente porque Palworld tornou-se um fenômeno inesperado, mesmo sendo constantemente comparado (e criticado) por suas semelhanças com Pokémon. Com isso, o desfecho do caso pode estabelecer um precedente importante sobre os limites entre inspiração e infração no design de games.
Se perder em casa, a Nintendo poderá repensar sua abordagem — o que seria um raro revés jurídico para uma das empresas mais poderosas e protetoras de sua propriedade intelectual no mundo dos games.













