Game Pass sob pressão: modelo da Microsoft é questionado por Shuhei Yoshida, ex-executivo da Sony

O Game Pass se consolidou como a espinha dorsal da estratégia de jogos da Microsoft nos últimos anos. Lançado como um serviço de assinatura que dá acesso a centenas de títulos por uma taxa mensal, o Game Pass mudou a forma como se consome jogos — e também como eles são produzidos, distribuídos e monetizados. Seu impacto foi tão profundo que serviu como justificativa para aquisições bilionárias como as da Bethesda e da Activision Blizzard, reforçando o catálogo com nomes de peso.

Para o consumidor, o serviço oferece um custo-benefício quase imbatível: lançamentos de peso disponíveis no “day one” por uma fração do preço de um jogo completo. No entanto, a sustentabilidade desse modelo começa a ser questionada por vozes influentes da indústria.

Durante a gamescom latam, Shuhei Yoshida, ex-presidente da Sony Interactive Entertainment Worldwide Studios e figura histórica no ecossistema PlayStation, foi um dos que levantaram esse debate. Em entrevista ao site Game Developer, Yoshida afirmou que a estratégia da Microsoft, ao prometer lançamentos imediatos no Game Pass, pode ser um tiro no pé a longo prazo.

“Acredito que a forma como a Sony abordou as assinaturas é mais saudável. Não prometer demais e permitir que as pessoas comprem os jogos no lançamento ajuda a manter o valor do produto”, explicou o executivo. “Depois de alguns anos, os jogos perdem tração comercial, então adicioná-los ao serviço atrai novos jogadores a tempo da sequência.”

Yoshida reconheceu, no entanto, avanços importantes da Microsoft em outras frentes, como a retrocompatibilidade — que trouxe jogos do Xbox 360 e do primeiro Xbox para os consoles modernos — e elogiou o trabalho técnico envolvido nesse processo.


A mudança de foco da Microsoft

Com o crescimento do Game Pass, a Microsoft adotou uma postura agressiva e ousada no setor. Em vez de manter o foco exclusivo em consoles da linha Xbox, a empresa passou a investir em uma abordagem multiplataforma, levando seus títulos para PCs, dispositivos mobile e até consoles concorrentes.

Jogos como Sea of Thieves, Hi-Fi Rush, Pentiment e Grounded já estão disponíveis no PlayStation 5, uma movimentação que teria sido impensável há poucos anos. Isso reforça a nova filosofia da companhia: distribuição ampla e conveniência acima da exclusividade.

A promessa de entregar grandes títulos em seu lançamento — como DOOM: The Dark Ages e Clair Obscur: Expedition 33 — tem sido um dos pilares centrais da proposta do Game Pass. Mas, como sugerido por Yoshida, essa mesma promessa pode representar um risco: ao condicionar os consumidores a esperar que tudo esteja incluso na assinatura, o valor percebido de comprar jogos individualmente pode estar sendo corroído.


O futuro dos serviços de assinatura

A fala de Yoshida expõe um dilema que toda a indústria terá que enfrentar nos próximos anos: como equilibrar acessibilidade com rentabilidade? Serviços como Game Pass e PS Plus Extra mudaram a percepção de valor dos jogos — mas também aumentaram a dependência de grandes volumes de usuários para justificar seus custos.

A Microsoft segue confiante na expansão global de seu ecossistema, apostando em um modelo que coloca o serviço acima do hardware. Já a Sony, por ora, prefere manter a força das vendas individuais em seu modelo, oferecendo jogos na assinatura apenas meses — ou anos — depois de seu lançamento.

O debate está aberto. E as decisões tomadas agora vão moldar o futuro dos games por muitos anos.