Quando se fala em Mortal Kombat, a primeira coisa que vem à mente é violência gráfica, sangue e os icônicos Fatalities. Por isso, a ideia de transformar essa franquia ultraviolenta em uma série animada para o público infanto-juvenil parece, no mínimo, improvável. E, ainda assim, foi exatamente o que aconteceu em 1996 com a estreia de Mortal Kombat: Defenders of the Realm.
Exibida pela USA Network aos sábados de manhã, a série foi uma produção da Threshold Entertainment (a mesma do filme de 1995) em parceria com a Film Roman. Foram lançados 13 episódios em uma única temporada, com foco total em ação, mensagens positivas e — surpreendentemente — zero sangue.
A série funcionava como uma espécie de continuação livre do filme live-action de 1995. Liderados por Raiden, os guerreiros da Terra formavam uma equipe quase militar: Liu Kang, Sonya Blade, Jax, Kitana, Sub-Zero (versão do irmão mais novo), Nightwolf e Stryker enfrentavam invasões de portais interdimensionais vindos do Exoterra e outros reinos, sempre com Shao Kahn e seus aliados como ameaça.
A estrutura do desenho era bem diferente dos jogos: cada episódio trazia uma invasão a ser combatida, com mensagens sobre trabalho em equipe, superação e empatia, quase como um episódio de X-Men: Animated Series ou Capitão Planeta. Nightwolf, inclusive, era o “analista de dados” da equipe, com base tecnológica e lobo de estimação. Sub-Zero era o solitário em busca de redenção, e Sonya e Jax viviam discutindo estratégias.
Mesmo suavizada, a série tinha apelo para os fãs mirins da franquia: visual sombrio, trajes fiéis aos jogos, dublagem intensa e cenas de ação constantes. Mas, claro, nenhum Fatality foi realizado — o máximo eram raios, explosões e quedas dramáticas. Ainda assim, a série conseguiu ser séria o bastante para ganhar o respeito de parte do público, especialmente pela tentativa de dar profundidade a personagens até então sem muito espaço narrativo.
No Brasil, a série foi exibida pela Record e pelo Cartoon Network, com dublagem que manteve os nomes e boa parte do tom original. Muitos fãs da época lembram com carinho dessa versão “light” de Mortal Kombat como a porta de entrada para o universo da franquia.
Hoje, Defenders of the Realm é lembrado como uma curiosidade — um experimento ousado que tentou adaptar o mundo mais violento dos games em um formato acessível para crianças. Pode não ter Fatalities, mas teve coragem.