A escolha de Julia Garner (Ozark) como a nova Surfista Prateada no filme Quarteto Fantástico: Primeiros Passos reacendeu discussões acaloradas entre fãs da Marvel. Afinal, não se trata apenas de um novo rosto para um personagem clássico, mas também de uma reinvenção de um dos arautos mais icônicos do universo cósmico da editora. Diante das dúvidas, vale retornar às origens nas HQs para entender o papel do Surfista Prateado, o histórico de Shalla-Bal e por que essa mudança de gênero tem precedentes sólidos nas páginas dos quadrinhos.
A origem do Surfista Prateado
Criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1966, o Surfista Prateado estreou na emblemática “Trilogia de Galactus”, nas páginas de Quarteto Fantástico. Originalmente, ele surge como o arauto do Devorador de Mundos, anunciando a chegada de Galactus à Terra. No entanto, após conhecer a humana Alicia Masters, ele desenvolve empatia pela humanidade e se volta contra seu mestre, sendo punido com o exílio permanente em nosso planeta.

Essa virada moral transformou o personagem em um símbolo de redenção e melancolia cósmica. Posteriormente, ganharia série própria nas mãos de Stan Lee e John Buscema, onde sua origem foi expandida: Norrin Radd, um cientista do planeta Zenn-La, sacrifica sua liberdade para salvar sua civilização e se torna o Surfista Prateado. Nesse processo, ele se despede de sua amada, Shalla-Bal.
Quem é Shalla-Bal?

Nos quadrinhos, Shalla-Bal é muito mais do que o grande amor de Norrin. Ela representa o apego do herói ao passado, à humanidade que ele precisa abandonar. Sua história, embora periférica nas HQs principais, foi explorada em obras paralelas e em universos alternativos.
A mais marcante dessas versões surge em Terra X (1999), saga distópica da Marvel onde Galactus transforma Shalla-Bal na nova Surfista Prateada. Em posse dos mesmos poderes de Norrin, ela luta ao lado do amado, até morrer tragicamente em combate. A história mostra que a presença feminina no manto do surfista cósmico não é novidade — ainda que em universos alternativos.
Outra figura semelhante é Frankie Raye, que também atuou como arauta de Galactus sob o codinome Nova, durante a elogiada fase de John Byrne em Quarteto Fantástico. Frankie se ofereceu para servir Galactus em troca da salvação da Terra e ganhou poderes cósmicos, repetindo o sacrifício feito por Norrin décadas antes.
A reinvenção do MCU

No cinema, o MCU já demonstrou mais de uma vez que não tem receio de adaptar personagens de forma livre. Hela, por exemplo, tomou o lugar de personagens masculinos nas HQs para se tornar a irmã de Thor em Thor: Ragnarok. Thanos teve motivações distintas das dos quadrinhos, e todo o arco da Guerra Civil foi remodelado para caber na cronologia já estabelecida. Com isso em mente, fazer de Shalla-Bal a Surfista Prateada não é um desvio — é uma evolução.
Julia Garner, indicada ao Emmy, pode oferecer uma nova dimensão emocional à personagem. Seja como uma Shalla-Bal que sacrifica tudo para salvar seu planeta, seja como aliada do Quarteto que assume o fardo cósmico, a atriz tem espaço para construir uma figura poderosa e trágica à altura do legado de Norrin Radd.
O futuro cósmico da Marvel
Com Galactus prestes a dar as caras no MCU, tudo indica que a fase cósmica do estúdio está ganhando força. O uso do multiverso permite que o filme combine elementos de várias versões da Surfista Prateada: a Shalla-Bal de Terra X, a aura trágica de Norrin Radd e o sacrifício de Frankie Raye.
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, dirigido por Matt Shakman, estreia em 24 de julho com Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn e Ebon Moss-Bachrach no elenco principal. Resta saber se Julia Garner brilhará como a nova arauta de Galactus — mas, pelo menos nos quadrinhos, a base já está firmemente estabelecida.